Marco Legal de Games: uma era de inovação e proteção de dados

Em 3 de maio de 2024, o Brasil deu um passo significativo em direção à regulamentação e ao fomento da indústria de jogos eletrônicos com a sanção da Lei 14.852/2024. Esse marco legal não apenas estabelece diretrizes claras para o desenvolvimento, comercialização e uso de jogos eletrônicos, mas também alinha esses processos com a proteção rigorosa de dados pessoais, especialmente dos usuários mais jovens. A medida é um reflexo do crescente reconhecimento do impacto cultural, econômico e social que os jogos eletrônicos representam no cenário global.

Atualmente, o mercado brasileiro de jogos eletrônicos é um dos dez maiores do mundo, gerando uma receita total de US$ 2,6 bilhões (aproximadamente R$ 12,66 bilhões) anualmente. Com um crescimento anual de 10%, espera-se que o setor atinja um gasto próximo de US$ 3,5 bilhões (R$ 17,04 bilhões) até 2025.

Esse dinamismo estabelece o Brasil não apenas como a maior potência da indústria de jogos na América Latina, mas também como a segunda maior do sul global, superada apenas pela Coreia do Sul. Esses números destacam o potencial significativo da indústria de jogos eletrônicos como motor de crescimento econômico e inovação tecnológica no país.

A nova legislação brasileira trata os jogos eletrônicos como vetores de desenvolvimento econômico e inovação. Ao fornecer uma definição abrangente que inclui desde jogos em consoles até aplicações em realidades aumentada e virtual, a lei oferece uma base sólida para o crescimento e a expansão do setor. Mais importante, ela introduz medidas de incentivo ao investimento e ao empreendedorismo inovador, reconhecendo a importância desse setor na promoção da produtividade e competitividade da economia nacional.

Proteção dos dados e desafios

No coração da nova legislação está a preocupação com a privacidade e a segurança dos dados pessoais dos usuários. Com a crescente prevalência de microtransações e sistemas de interação social nos jogos, a proteção de dados torna-se uma prioridade absoluta. A lei faz exigências específicas quanto à coleta e ao tratamento de dados, alinhando-se estreitamente com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) do Brasil.

Apesar de suas muitas virtudes, o Marco Legal de Jogos Eletrônicos enfrenta desafios significativos, especialmente no que tange à aplicação prática de suas diretrizes. A rápida evolução tecnológica do setor de jogos pode dificultar a manutenção de regulamentações que sejam ao mesmo tempo relevantes e eficazes. Além disso, a implementação efetiva de medidas de proteção de dados em um ambiente tão dinâmico e interativo requer constante vigilância e adaptação.

Ambiente de inovação

Por outro lado, a lei abre um leque de oportunidades para profissionais e empresas brasileiras, estabelecendo um ambiente propício ao desenvolvimento de jogos inovadores e competitivos no mercado global. Também coloca o Brasil na vanguarda dos países que reconhecem e regulamentam os jogos eletrônicos não apenas como produtos de entretenimento, mas como importantes ativos culturais e econômicos.

O Marco Legal para a Indústria de Jogos Eletrônicos é um desenvolvimento bem-vindo e necessário, posicionando o Brasil como um líder em ambos os campos da inovação tecnológica e da proteção de dados. Como o setor continua a crescer, tanto em tamanho quanto em influência, iniciativas como essa serão cruciais para garantir que o desenvolvimento seja sustentável, ético e inclusivo.

Resta agora aos stakeholders da indústria — desenvolvedores, jogadores, reguladores e acadêmicos — trabalhar juntos para assegurar que os benefícios desta legislação sejam plenamente realizados, enquanto os desafios são meticulosamente gerenciados.

Neste contexto, a colaboração contínua e o diálogo entre todas as partes interessadas serão essenciais para moldar um futuro em que os jogos eletrônicos não só prosperem como uma indústria, mas também atuem como catalisadores para o avanço tecnológico e a melhoria social em todo o país.

O compromisso com a inovação sustentável e a proteção rigorosa da privacidade dos usuários faz do Brasil um exemplo a ser seguido. À medida que avançamos, é imperativo que continuemos a refinar e aprimorar nossas leis e regulamentações para garantir que elas se adaptem às novas realidades tecnológicas e às necessidades dos consumidores. Ao fazer isso, podemos garantir que a indústria de jogos não só atenda às expectativas econômicas, mas também contribua de forma significativa para o bem-estar e a segurança de seus usuários, estabelecendo um padrão de referência global.

Em conclusão, o Marco Legal de Jogos Eletrônicos representa uma oportunidade única para o Brasil solidificar sua posição como líder global tanto no campo tecnológico quanto no campo da proteção de dados. Com a implementação cuidadosa desta legislação, o Brasil está bem posicionado para colher os benefícios de uma indústria de jogos vibrante e responsável, impulsionando a inovação e promovendo uma cultura de segurança e respeito pela privacidade dos indivíduos. Acompanhemos atentamente os próximos capítulos desta jornada, à medida que o Brasil continua a definir o curso para um futuro onde tecnologia e proteção de dados caminham de mãos dadas.

  • é sócio do Godke Advogados, advogado especializado em Direito Digital e Proteção de Dados, certified information privacy manager (CIPM) pela (International Association of Privacy Professionals (IAPP), membro da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados e Inteligência Artificial (IA) da OAB-SP e pós-graduando em Digital Services pela Faculdade de Direito de Lisboa (Portugal).

     

    Veículo: Conjur.